Quando uma cerveja salva

Uma vez estava conversando com um colega de empresa, alemão em visita ao Rio , quando ele me disse que não entendia porque vendíamos a idéia de ser a caipirinha nossa bebida nacional.

Em todos os lugares que ia via pessoas bebendo cerveja.

Concordei com ele, acho mesmo que uma cerveja pode resolver muitas coisas.

Como o que aconteceu neste caso, do tempo de antes das UPPs , unidades de polícia que acalmaram várias regiões do Rio .

Aconteceu muito antes da criação e uso de GPS.

Daniel era representante de vendas de indústria de equipamentos eletroeletrônicos ainda nos anos 80 , época de reserva de mercado para fabricantes nacionais no país.

Recebeu um telefonema que indicava chance de negócio promissor .

Um laboratório, fabricante de produtos farmacêuticos , localizado em Curicica , pediu sua visita para discutir proposta de compra de equipamentos de automação.

Logo após o almoço para lá foi .

Resolveu ir pela Barra , não conhecia o caminho , mas parando aqui , perguntando ali conseguiu chegar.

A discussão foi boa , levou a tarde toda , mas saiu da empresa já escurecendo com um desenho de proposta muito boa .

Tinha a certeza de que conseguiria fechar com sua supervisão o desconto pedido dado o volume financeiro da proposta .

Estava tão distraído , pensando no negócio e na comissão que receberia , que não seguiu as orientações que recebera ao sair da empresa.

Quando deu por si chegou a conclusão que estava perdido .

Sem nenhuma indicação de placas , noite já caída , pista quase sem luz seguiu seu nariz para ver onde podia parar e pedir ajuda .

Para piorar o carro começou a fazer um barulho esquisito e perder força.

Viu um grupo de prédios baixos e resolveu virar na direção deles.

Prédios tem gente e onde tem gente pode ter ajuda.

Só depois que entrou viu a bobagem que havia feito.

Estava na Cidade de Deus , na época local de ocorrência de crimes e tráfico.

O carro piorou , quase parando viu o que parecia ser uma birosca .

Resolveu parar , perdido estava , não podia piorar.

Ao entrar na birosca, alto, branco, ainda usando gravata , viu que o movimento e as conversas pararam , todas as pessoas olhando em sua direção.

Eram pessoas simples , muitos de bermudas , sem camisa, só de sandálias .

Disse boa noite em voz alta mas ninguém respondeu.

Aproximou-se do balcão para falar com quem parecia estar atendendo quando sentiu uma mão tocar seu ombro ouvindo a frase em seguida .

- Ô bacana, paga aí uma cerveja para mim !

Virou para trás e viu quem havia lhe tocado o ombro.

O sujeito era grande , bem mais alto que ele , forte ,sem camisa, cara de poucos amigos.

Respondeu de imediato sem muito pensar .

- Pagar uma cerveja para você ? Não pago não . Pago para você e todo mundo pois estou comemorando . E pede para descer um jiló frito e umas asinhas para acompanhar.

A cara feia do sujeito virou sorriso e em poucos minutos tinham virado amigos de infância .

Ficou no local até a birosca fechar.

Seu novo amigo saiu e voltou depois de acordar um mecânico que morava perto da birosca.

Com a ajuda de lanternas viu o mecânico prender um cabo solto.

Saiu de lá com a recomendação do caminho a seguir e que não parasse .

Nunca se sabe quem poderia encontrar.

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