Tragédia Musical


Tive a sorte de ganhar um vizinho que estuda música.
No presente caso estuda bateria.
Assim em alguns finais de semana temos a sorte de ouvi-lo repetindo inúmeras vezes um mesmo trecho, uma mesma sequencia de passos.
Minha sorte é que ensaia em seu terraço, assim só fecho a porta de acesso ao meu e não incomoda muito.

Estudar música exige isso, por repetição exaustiva se aprende, se afina o toque.
Conversei uma vez em sala de embarque de Congonhas com um concertista de piano.
Disse-me que estudava pelo menos 4 horas diárias, a repetir várias vezes um mesmo trecho de uma obra clássica.
Nada mais chato para quem escuta é isto, ele mesmo reconhecia.

Pois outro dia F. me contou a estória de como resolveu parar de aprender a tocar guitarra.
Entrou em seu quarto para estudar e deixou o gato da casa entrar.
Fechou a porta, a janela, abriu o guarda-roupa para ajudar a absorver o som, e começou a repetir os acordes iniciais de Smoke on Water sentado em sua cama.
A introdução deste clássico do Deep Purple acredito ser uma das mais conhecidas em solo de guitarra.
O gato, sentado próximo a cama de F., tudo assistia.

Depois de 1 hora e meia repetindo sempre a mesma sequencia inicial, o quarto todo fechado, sentindo calor e o ar viciado, F. resolveu abrir a janela .
Pois aí deu-se a tragédia.
Enxergando um espaço para fuga o gato saltou pela janela do 12º andar.
Suicidou-se, não aguentou mais.

Comentários

Anônimo disse…
hahaha.
o gato adotou uma solução drástica. lembrei um ditado que acho que é francês: 'partir é morrer um pouco e morrer é partir um pouco demais'.
minha filha estuda piano e às vezes passamos por isso, a repetição de um trecho muitas e muitas vezes. a maior parte das vezes eu gosto.rs.
abração,
adelson.
Que história tão trágica! :O Mas realmente compreendo o pobre gato. Também não conseguia estar continuamente a ouvir a mesma música durante tanto tempo!!! Acho que enlouquece qualquer um! Se não vejamos, quando as pessoas estão mentalmente perturbadas não costumam estar sempre a pensar no mesmo? A ideia não é quebrar esse padrão repetitivo para ganhar saúde mental? Nesse caso, a repetição não é salutar! Já diz o povo (provérbio popular): "Tudo o que é em excesso é em conta errada". É outro: "É no equilíbrio que está a virtude"! :)
Um abraço,
Susana

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