O Sequestro dos Bombons


Algumas situações engraçadas acontecem em festas, seja por que pessoas se sentem mais soltas em razão de estímulos ou por que estímulos surgem em algumas situações e as provocam.

Estávamos na festa de quinze anos da filha de Jovelina, a então secretária da área de informática da primeira empresa onde trabalhei. A festa ocorria em um buffet próximo ao Norte Shopping no Rio. Já havia saído da empresa, estava trabalhando na rede de lojas de departamentos, mas meu carinho e atenção com os ex-colegas da empresa continuava o mesmo.

Estávamos em uma mesa com outros colegas da empresa, a nosso lado estava um casal de mais idade, ela não parava de falar com o marido, este sempre assentindo, era o próprio retrato da piada , a última palavra era sempre a dele , “sim querida “.
Conversava com Augusto próximo a um parapeito quando vi a senhora da mesa se levantar, retirar uma folha grande de papel da bolsa, parecia uma toalha de papel, se dirigir a uma mesa de um canto onde estava uma enorme cascata de bombons . Aproximou-se da cascata, esticou a folha e alongando o braço varreu a cascata de bombons para seu papel formando um embrulho, um cilindro. Feito isto voltou a mesa e por não caber o cilindro em sua bolsa o deixou em cima da mesa após falar com o marido.
Sem acreditar no que tinha visto falei com Augusto :
- Você viu o que aquela senhora ali de óculos fez ?
- O que ?
- Está vendo ali aquele cilindro grande de papel em cima da mesa dela ?
- Sim, o que é ?
- Ela levantou, varreu aquela cascata de bombons daquela mesa e fez aquele embrulho.
- Mentira, ela não fez isso !
- Fez sim, isto não está certo,que grosseria, falta de educação .
- Verdade, isto não se faz.
Achei que o “crime “ não podia ficar sem castigo. Ao olhar para o lado vi que havia uma pilastra junto ao parapeito, deixando um espaço não visto por quem olhava de frente.
Voltei a falar com Augusto :
-  Fica próximo a pilastra. Eles vão dar bobeira, vou pegar o embrulho, te passar, e você coloca atrás da pilastra, no parapeito.  Eles vão tomar um susto.

Augusto riu e se posicionou. Não foi preciso esperar muito, a senhora se levantou da mesa, esperei ela se afastar e percebendo que o marido olhava para o outro lado em um bote peguei o embrulho que foi rapidamente para trás da pilastra.
Fazendo nossa melhor cara de paisagem pegamos duas doses de uísque , encostamos no parapeito e começamos a observar o que iria acontecer.
A senhora voltou  e ao sentar a mesa cobrou do marido :
- Onde estão os bombons ?  Sequestraram meus bombons !
Ele virou para o lado e nada havia. Você levou ele disse.
Porque iria levar os bombons ao banheiro ela respondeu .
Começaram uma busca frenética, olharam em baixo da mesa, no chão em volta, em cima das mesas próximas e nada .
Augusto e eu fazíamos força para não rir .
A senhora começou a desancar o marido .
- Você não presta para nada, nem para tomar conta de um pacote de bombons, pelo amor de Deus ....
Fiquei com pena do senhor mas não iria entregar o pacote naquele momento, ela estava merecendo o castigo também.
A coisa desandou quando Zeferino, colega da empresa, se aproximou do parapeito do outro lado da pilastra e olhando para o lado viu o cilindro de papel. Curioso pelo achado pegou o pacote. Estava começando abrir o embrulho quando a senhora levantou da mesa e partiu para cima dele.
- Este pacote é meu, me devolva , está cheio de bombons !
Zeferino surpreso com o achado retrucou :
- Bombons ?  O pacote tem seu nome minha senhora ?
Após dizer isto continuou a abrir o cilindro e não escondeu a surpresa .
- Minha senhora, quantos bombons, vamos socializar isto.
Nervosa a mulher puxou o pacote das mãos de Zeferino rasgando o embrulho. Uma chuva de bombons foi ao chão.  As pessoas que estavam em volta, assistindo ao que acontecia, começaram a pegar os bombons do chão.
Furiosa a mulher gritava, não peguem, é meu , fui eu quem pegou tudo , levanta Valdir , me ajuda a pegar , vamos homem mole.
Nesta hora não resisti e comecei a rir muito, Augusto e Zeferino se dobravam de rir também.
Fuzilando-me com o olhar a bruxa me viu rindo.
- Foi você não é ?  Foi você quem pegou os meus bombons ?
Uma lágrima de riso me escorria da face quando respondi vendo a mulher segurando bombons com as duas mãos.
- Minha senhora , a senhora está com muitos bombons, concordo com meu amigo, deveríamos socializar este chocolate .

Ela não me respondeu, voltou a mesa, jogou o que tinha recuperado na bolsa, chamou o marido e foi embora da festa.
Ao sair o marido olhou para trás. Fiquei com a nítida impressão de que me sorria.

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