O perigo está no chão
Todo mundo tem uma estória para contar sobre viagem em avião. Eu mesmo já
contei algumas, como a de passageiro apavorado antes da decolagem e outras com
situações engraçadas.
As vezes porém o perigo está no chão.
Cheguei no Aeroporto do Galeão e sem bagagem desci direto
para o local onde param os táxis comuns.
Espero o táxi encostar e entro no banco traseiro.
Ao entrar digo boa noite, vamos para a Tijuca por favor ?
O motorista quase calvo por completo, com um resto de
cabelos brancos continua parado, não me responde, com um olhar fixo a frente.
Insisto e volto a falar :
- Senhor, boa noite, vamos para a Tijuca por favor .
Nada acontece. Insisto mais uma vez e nada muda, o homem
parece congelado.
Resolvo sair e nesta hora ao mexer no trinco da porta para
sair ele se vira e em voz alta me diz :
- Boa noite, para onde vamos ?
Tomei um tremendo susto .
- Eu lhe disse, vamos para a Tijuca.
- Para onde ?
Ao perguntar novamente ele se aproxima para me ouvir.
O homem é surdo concluo , repito agora em voz alta.
- Para a Tijuca , o senhor pegue por favor a Av Paulo de
Frontin e depois a rua Barão de Itapagipe.
- O senhor vai pagar em voucher ?
- Não , com dinheiro ?
- Com voucher ?
- Nãooo, em dinheirooo. Ao falar chego a sacar a carteira
para mostrar.
O carro finalmente se move.
Na subida da rampa de saída do aeroporto ele se volta
totalmente para a minha direção, deixa de olhar a frente, e pergunta
novamente:
- Vamos pela avenida Maracanã ?
Estou com medo agora , além de surdo o homem não tem cuidado
nenhum ao volante e anda com o pé embaixo, falo quase que aos berros .
- Pelo amor de Deus senhor olhe para a frente. Vamos pela
Avenida Paulo de Frontin.
Deve ser uma pegadinha de Tv, começo a procurar onde estão
as câmeras .
Na Linha Vermelha ao cruzar de pista o homem não escuta a
buzina de outro carro e dá uma fechada espetacular em uma Blazer.
A Blazer chega a queimar os pneus na freada para não bater.
Se o meu vôo tinha sido monótono como todos são em sua
maioria, a estar dentro de uma caixa fechada esperando o tempo passar, minha
volta para casa em um táxi estava sendo emocionante.
No final da Francisco Bicalho ao invés de seguir em frente
para pegar a Av Paulo de Frontin ele vira em direção a Praça da Bandeira.
Desta vez é meu grito que dá um susto nele.
- Não, era para seguir em frente , eu lhe disse Av Paulo de
Frontin.
O homem chega a cruzar os braços na direção tentando fazer a
volta na contramão.
Resolvo chegar perto e falar mais próximo dele ainda em voz alta.
- Tudo bem senhor, continue por favor, entre na rua Mariz e
Barros e depois vamos em direção a Afonso Pena.
- O senhor tem razão, não vou lhe cobrar este desvio , não
sei porque fiz isso . Será que eu comi muito queijo, esqueci mesmo.
- Não tem problema, eu pago. Vamos seguir.
Próximo a poltrona, falando alto consigo fazer com que siga
o caminho que dito.
Ao chegar pago a corrida, não espero o troco e salto
rapidamente.
Não sei porque ainda dizem que viajar de avião é mais perigoso.
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