Negão Boa Gente


O caso abaixo me foi enviado por Ivan Coimbra, retrata situação de seu dia a dia . Ivan é amigo da empresa onde hoje estou. Disse-lhe que devia escrever mais.

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Viro a esquina da Magnólia e lá está novamente a Van parada no meio da rua, com o pisca pisca ligado, em frente à padaria da Aurora.

Paro o meu carro sem querer complicar ainda mais o trânsito. Dentro da Van algumas crianças, três ou quatro, não mais, estão muito quietas, meio dormindo meio acordadas e do lado de fora uma mãe-avó conversa tranquilamente com o motorista, um negão com cara de boa gente.

Neste tempo a Baixinha já colocou meu café puro e eu logo reclamo que o pão vai torrar na chapa, mais uma vez ela resmunga e corre para tirá-lo e eu mais uma vez reclamo, uma rotina que temos necessidade.

Neste horário, cinco para as sete, o trânsito piora a cada minuto, a Van parada é motivo de buzinas de reclamação e o boa gente termina a conversa com a mãe-avó e, calmamente, pede um café com leite ”crarinho” no copo de “prástico” e, com a intimidade marcada por um sorriso fácil, deseja bom dia a todos.

Com o copo quente volta para a Van da Escola Tia Júlia, abre a porta do carona, mexe em algo que não vejo, pois a porta aberta encobre a minha visão,joga dois sacos plásticos na calçada,entra no carro equilibrando o copo quente e pula para o outro banco.

Minha habitual concentração no jornal fica de lado, e de lado observo que a Baixinha também parou e me observa atentamente a pensar o que deu nele que hoje esqueceu do jornal?

O Negão Boa Gente se acomoda lentamente e, com todo o cuidado de um “Profissional do Trânsito”, sai com o café com leite quente em uma das mãos e o volante na outra.

Será que o carro é automático?

Esqueci de ver.

Deixa para lá; amanhã, quando eu virar a Magnólia novamente, ele vai estar lá.

Pobres crianças.


Niterói, 11 de agosto de 2010.

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