Pelada na Quinta

Leio no "O Globo " de hoje entrevista com João Ubaldo Ribeiro em que este afirma que a pelada de futebol é um jogo democrático.

Concordo integralmente , pelada , praia e Maracanã são espaços democráticos por natureza.

Ao lado do empresário pode estar o porteiro, o engenheiro, o faxineiro, não importa a classe social.

Em determinada época todas as tardes de sábado íamos para um dos campos de futebol da Quinta da Boa Vista ou na Lagoa jogar contra quem lá estivesse.

Tínhamos um time base com Pimenta, Baiano, Paulinho, Marx , Marcos Paulista , Eu , Curumin,Edson, Mário e Júlio que completávamos com quem aparecia no bar do Sinézio antes da ida para Quinta ou na hora da pelada , perguntando quem mais queria jogar.

Era um bom time, não fazíamos feio na Quinta ou na Lagoa jogando contra outros times.

Curumim era bom goleiro, Pimenta jogava salão pelo Grajaú ,metia uma senhora pancada na bola com a perna esquerda e driblava com facilidade.

Marx, cunhado do Marcos Paulista , era mais velho que nós ( tínhamos 18, 19 anos) mas compensava a diferença de idade, era um senhor de 28 anos , no toque de bola e na altura. Tinha mais de 1,90 m.

Na hora do córner ninguém subia mais do que ele.

Paulinho sabia armar o jogo com velocidade e fazendo dupla no meio com Marx tínhamos sempre para quem passar a bola de segurança.

Na frente Júlio não perdia dividida com a defesa e chutava bem com a perna direita.

Baiano corria muito e driblava em velocidade pela direita .

Atrás Marcos Paulista era o xerife da defesa que eu pela direita , Mário e Edson completávamos.

Quem chegava podia ocupar posição no meio ou ia o Edson para o meio entrando o estranho na defesa.

Sempre nos apertávamos em dois carros , Marx tinha um Dodge Dart e Paulinho um Gol , e assim íamos.

Pois um dia chegamos na Quinta e pedimos para jogar a próxima contra quem vencesse a partida que estava rolando.

A regra era clara para duração da pelada , com três vira , com seis acaba.

Com menos de quinze minutos vencemos .

Pimenta estava com o capeta no corpo, driblava e passava com facilidade na esquerda por quem aparecesse.

Os caras gritavam marca , pega o Russo , mas não adiantava.

Na direita depois de driblar o marcador 3 vezes seguidas Baiano provocou mudança no outro time.

Colocaram um negão enorme para marcá-lo mas também não adiantou.

Júlio escorou quatro bolas e Marx meteu dois gols de cabeça.

No segundo jogo contra outro time vencemos de novo, e da mesma forma aconteceu o terceiro.

Na hora do quarto jogo seguido estávamos eu e o time já cansados , queríamos ainda jogar mas Marx deu a dica :

- Gente, é melhor a gente perder essa , ouvi dois caras comentando que vão chamar uma galera no morro para nos pegar, acham que estamos esculachando demais.

Assim perdemos o jogo por 6 a 2 , quando acabou a galera de fora fez uma festa que parecia a que time pequeno faz quando vence o jogo contra o time grande.

Estávamos entrando nos carros estacionados perto quando a PM chegou correndo atrás de um cara no campo.

De longe o vi correndo , tinha acabado de jogar contra a gente , era o cara que mais falava e gritava em campo .

No dia seguinte li a notícia no jornal da prisão de um dos gerentes do tráfico em São Cristóvão.

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